sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Fórum Social: a que será que se destina…

Por Mauri Cruz 
Antes de retrucar reconheço que é quase impossível alguém vir a Porto Alegre participar do Fórum Social e não estabelecer uma comparação com as edições do Fórum Social Mundial de 2001 a 2005. Atividades massivas com intelectuais de renome internacional, na sua maioria europeus, dissertando contra o neoliberalismo, pensamento único da época. Dava-se recados diretos ao Fórum Econômico de Davos. Eram a cidade da resistência, quase que única barricada à se erguer contra o sistema financeiro internacional ousando defender a ideia de que um outro mundo era possível.
Que um participante do Fórum Social ou mesmo a mídia conservadora tenha esta nostalgia não é tão estranho. Me preocuparia se os dirigentes das organizações e movimentos sociais tivessem essa compreensão. Felizmente, pela ampla adesão dos mais variados tipos de movimentos nacionais e internacionais à edição do Fórum Social Temático de Porto Alegre qualquer alusão de seu esvaziamento é equivocada.
Ouso dizer que nesta edição estamos conseguindo rearticular de forma efetiva as principais redes e organizações sociais brasileira que estiveram no inicio do processo do Fórum Social e, de lambuja, agregando redes e movimentos internacionais que tem tido um papel efetivo na internacionalização das agendas e metodologias do FSM em todos os continentes. Haverá mais de 37 eventos ligados ao Fórum Social no ano de 2014 em todo o planeta, discutindo agendas de interesse social e agregando lutadores de todas as matizes políticas.
Em Porto Alegre, desde a retomada em 2010, não nos propomos a reunir quantidade e sim qualidade. Mais que isso, não nos propomos a convidar pessoas apenas para falar a um grande público, mas reunir militantes sociais das várias redes e experiências a fim de trocar experiências e impressões sobre as alterações da conjuntura mundial e o papel dos movimentos e organizações sociais.
E é a alteração da conjuntura mundial que exige que haja uma outra dinâmica política nos processo do Fórum Social Mundial. O mundo de 2014 guarda pouca semelhança com o mundo de 2001. Apenas para ilustrar pego emprestada a fala de Bernard Cassen na mesa de ontem promovida pela Abong sobre a crise capitalista quando dizia que em 2001 as ideias e propostas do FSM era somente isso, ideias e propostas. Não havia sequer um governo que tivesse experimentado sua eficácia. Hoje, há várias experiências não só na América Latina, mas na África e Europa que implantam as propostas por nós defendidas em várias áreas, seja da economia popular, dos direitos sociais ou mesmo da participação popular. Defender estas políticas públicas e avaliar sua eficácia é tarefa e responsabilidade da militâncias organizada dentro do Fórum Social. Aqui reside mesmo uma questão chave, dando sequência a fala de Cassen, que é a relação dos processo do Fórum Social com as dinâmicas de poder, seja nacional em relação aos governos, seja internacional em relação aos espaços multilaterais de governança global.
Isso não significa, na minha opinião, que o Fórum Social deva se colocar numa perspectiva de poder, e sim seguir trabalhando na consolidação das conquistas e no aprofundamento das mudanças. Não é menor o papel de protagonismo que as organizações do processo fórum tem nas lutas no norte da África, ou na luta internacional dos direitos das mulheres, ou mesmo no debate da mídia livre e democrática.
Antes de finalizar gostaria de afirmar que reunir milhares de militantes sociais representando centenas de redes de movimentos e organizações de mais de 60 países para debater a crise capitalista, os limites da democracia representativa e as questões da justiça social e ambiental não é uma iniciativa menor. Milhares sim, porque se tivermos uma média de 30 pessoas somente nas 270 atividades inscritas oficialmente isso representa mais de 8 mil participantes. E ainda há outra novidade que é a participação através das redes sociais nas discussões durante o próprio Fórum. A interatividade expande a participação de forma geométrica. Somente no site oficial foram mais de 17 mil visitas e interações, sem contar com igual ou maior interatividades nas redes ligadas ao Fórum Mundial de Mídia Libre, o Fórum Mundial de Educação, na rede WSFTV, no hotsite da Tenda Hip-Hop Brasil, nos debates virtuais do Espaço Ubuntu, os diálogos da economia solidária e o Conexões Globais. A importância do Fórum Social Temático deve ser medida pela realização de momentos de diálogos entre os vários movimentos nacionais e internacionais, do diálogo entre lideranças históricas das organizações sociais brasileiras com as novas lideranças dos movimentos que desabrocharam desde 2010 tanto no Brasil como em outras partes do mundo e a costura de uma agenda comum para o próximo período histórico.
Não tenho dúvida que o Fórum Social continua se reinventando e cumprindo seu papel. E Porto Alegre se mantém sendo um dos territórios políticos onde este papel se desenvolve de forma democrática, plural e multicultural. Muitas coisas precisam ser aprimoradas nas dinâmicas de organização, na gestão da infraestrutura, na democratização dos espaços e na sistematização dos acúmulos. Aliás, sobre esta questão, Porto Alegre também será uma das sedes do Projeto Memória Viva do Fórum Social Mundial. Por tudo isso, discutir o tamanho do Fórum Social Temático é fugir da discussão essencial que é o debate sobre o seu conteúdo político e a representatividade da militância presente. Como diz Boaventura há movimentos que são representativos e legítimos não por sua quantidade, mas pelas causas que defendem. Com certeza o Fórum Social é um destes movimentos.

Mauri Cruz é advogado socioambiental, especialistas em direitos humanos, dirigente nacional da ABONG – Associação Brasileira de ONGS e membro do Comitê de Apoio Local ao FSM.
fonte: http://www.sul21.com.br/jornal/forum-social-que-sera-que-se-destina/

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Granpal promove debate sobre democratização da comunicação

A Prefeitura de Alvorada participou, na tarde desta quarta-feira (22), do debate sobre democratização da comunicação promovido pela Associação dos Municípios da Grande Porto Alegre (Granpal), na sede da entidade, na Capital. A atividade faz parte do Ciclo Humanidades 20124, que promove debates sobre políticas públicas entre os municípios que integram a entidade. Esta edição do Ciclo Humanidades foi promovida especialmente para o Fórum Social Temático, que está sendo realizado de 21 a 26 de janeiro, em Porto Alegre. A atividade teve como painelistas o Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas Celso Schröder e o Presidente da Fundação Piratini, Pedro Osório.
O Jornalista Celso Schröder apresentou uma síntese histórica sobre a comunicação no Brasil e as motivações do movimento pela democratização da comunicação. Discorreu sobre os descompassos que o Brasil teve no segmento da comunicação social desde a abertura democrática. Sob os preceitos republicanos apontou um déficit importante que o Brasil vive atualmente no processo de democratização de comunicação e qualificou o debate sobre comunicação uma necessidade estratégica que necessita de políticas públicas. Nesse sentido, sugeriu a criação de oportunidades para debater a comunicação a exemplo do espaço gerado pela Granpal. Em sua apresentação, Celso citou Daniel Herz e seu trabalho pela democratização da comunicação no Brasil. Atualmente, Celso ocupa a cadeira de Herz, que faleceu em 2006, no Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional.
As TVs Educativas e a importância estratégica para uma comunicação mais democrática e permeada pelo controle público foi o tema que permaneceu no centro da apresentação do jornalista Pedro Osório. O presidente da Fundação Piratini destacou que esse debate não polariza o público e o privado, mas propõe um equilíbrio saudável às relações sociais.

Ambos debatedores defenderam o controle público para que seja possível um ambiente democrático nos meios de comunicação. Tal controle se daria por diversos mecanismos, entre eles os conselhos de comunicação e a promoção de debates para amadurecer a ideia de democracia na comunicação, que ainda é um sonho para a república brasileira.  

Radiações do Fórum Social Mundial geram o Fórum Mundial da Educação em Canoas e o Fórum Social Temático em Porto Alegre

Por Charles Scholl


Na terça-feira (21) eu tive o privilégio de poder participar do Fórum Mundial da Educação – Pedagogia, Região Metropolitana e Periferias, que acontece em Canoas. É uma das atividades do Fórum Social Temático – Crise Capitalista, Democracia, Justiça Social e Ambiental que, por sua vez, se desdobra em Porto Alegre. O FST tem enfoque político e ambiental, com uma pauta tão ampla quanto o conceito que podemos atribuir à política. O FME é focado no debate sobre os preceitos pedagógicos, que tornou Canoas a 'meca' da educação ao tempo que referenda Paulo Freire a principal autoridade intelectual, que estabelece um espaço de intersecção entre tantas culturas humanas de todos os continentes.
É fundamental demarcar, desde já, a influência que o Professor Serginho, prefeito de Alvorada, tem tido sobre tudo em minha vida. Em um primeiro momento, poderiam dizer que pelo fato de estar liderando a comunicação naquela cidade, a relação deveria ser automática. Pois bem, vamos às verdades. Essa automaticidade geralmente proposta no senso comum é um grave equívoco. Uma grande farsa imposta pela ignorância, pela superficialidade de quem quer gerar conteúdos políticos sem ter qualquer conteúdo. Minha relação com o prefeito parte de mim, sequer sei se é compartilhada, mas se sustenta pelas ações desse ente público em cada passo do seu dia. Não o conhecia, porém ao tempo que tive a oportunidade de me aproximar deste líder popular, me deparei com uma das pessoas mais importantes da minha vida. O Professor Serginho sobrevive em um meio político que necessita de reformas para que se torne justo, porém consegue nessa atmosfera poluída decantar o ar mais puro daquilo que sempre me inspirou na política. 




Assim eu caí no Fórum Mundial de Educação, por opção dele. Na abertura pude registrar as autoridades federais, estaduais e municipais, de municípios de todos os continentes. Todos em um tom uníssono entoando cânticos por um outro mundo possível. Esse mundo está sendo pavimentado pelas opções políticas majoritárias dos brasileiros que elegeram Dilma Roussef presidenta do Brasil, como reafirmação das políticas públicas implementadas pelo presidente Lula, e pela escolha do governador Tarso Genro, aqui pelos pampas.
Percebemos logo quando alguém escreve sem ter o que dizer. Percebemos também alguém que tem o que dizer, mas tem dificuldades em escrever. Digo que faço esse discernimento pela história da minha própria jornada, em que um período da minha vida tive dificuldades muito acentuadas em expressar meus sentimentos por limites culturais que saltavam aos olhos. Toda vez que encontro alguém nessa situação, me solidarizo automaticamente, independentemente se essa pessoa defende uma ideia contrária àquela que defendo. Percebi que não dou tanta ênfase assim às convicções que defendo, ao perceber claramente que quando estamos convictos nos afastamos da criatividade, das impossibilidades que são superadas pelos humanos. Prefiro, por opção, viver no terreno do desconforto em que todas as ideias são postas à prova ao limite de sua destruição. Uma vez que tenhamos compreendido que tal ideia já não resiste a esse teste não temos motivos para mantê-la viva em nossos pensamentos. 


Assim sigo despido aos debates propostos no Fórum Mundial de Educação. Nesse primeiro dia me deparei com um grupo de ativistas pela educação pública de qualidade, da Espanha. “Crida por Uma Educaciòn Pública de Qualitat”, ecoa palavras de ordem que encontram grande consonância com a realidade Brasileira. Ao fundo temos o registro de grandes amigos, Alexandre Virgílio, doutor em educação que me inspirou a paixão pela cidade de Alvorada e o intelectual de esquerda Eduardo Mancuso, que me abriu as portas e possibilitou a minha apresentação pessoal ao prefeito Professor Serginho. Mancuso me presenteou com sua mais nova publicação “Ensaios Marxistas”, da editora renascença. Vou devorar a obra e comentar posteriormente.