Vale percorrer todos os caminhos pela busca da virtude na política, pois os passos dados pelos trilhos da política do poder pelo poder nos trouxe à possibilidade de eliminar a humanidade com duas guerras mundiais.
Já aprovado na Câmara de Vereadores, o Regime Próprio de Previdência de Esteio, imprime mais uma pauta na agenda pública do município. Desde sua implementação, os atores sociais que se debruçaram sobre a melhor formulação possível para a nova instituição, observaram a complexidade do tema que é completamente apartado do senso comum. A proposta desenvolvida pela Prefeitura de Esteio teve acompanhamento de uma empresa terceirizada especializada em produzir os regramentos junto a consultoria jurídica do município e a produção dos percentuais resultantes do cálculo atuarial. O cálculo atuarial (nova palavra em nossa agenda pública) foi conferido por técnicos contratados pelo SISME, que fizeram trabalho em paralelo, com outra empresa contratada, que em posse das pranchas (outra palavra nova) com os dados dos funcionários do município, fizeram a fiscalização. A Câmara de Vereadores serviu como espaço adequado para apresentar o tema à sociedade. Com isso, realizou três Audiências Públicas com a presença dos funcionários, movimento que possibilitou a popularização do tema. Após a aprovação, na sessão do dia 1 de novembro, o município ganha 90 dias para implementar a estrutura que irá administrar o sistema previdenciário dos funcionários do município por cálculos de autonomia de 75 anos.
A novidade do Regime Próprio de Previdência trouxe à epiderme nuances desprezadas no cotidiano da política. De início, a própria política encontrou espaço para expor o desgaste que vive em nosso tempo. O assunto saltava aos olhos a todo o momento, na medida que o texto do projeto se mostrava correto, porém a preocupação central manifestada pelo SISME, por parlamentares e lideranças políticas questionava as possibilidades de má conduta, corrupção, malandragem, tudo em hipóteses. Os mais informados apresentavam exemplos de situações em que a índole dos gestores falhou promovendo prejuízos para muitas pessoas, com desvio de dinheiro público. Percebemos, por outro lado, que a preocupação sempre foi a criação de um texto infalível contra o achaque dos corruptos.
Além da estratégia defensiva na constituição do documento que, nesse ponto colocou todos, oposição e situação, do mesmo lado contra as possibilidades de corrupção, roubo ou fraude, também esteve presente a preocupação da autonomia. Um integrante da comunidade, aposentado do Banco do Brasil, Ênio, participou de forma brilhante com sugestões que traziam em seu âmago a preocupação da autonomia e provou que tais questões não estão contempladas na proposta. As observações vieram praticamente juntas. A autonomia entre os poderes traz credibilidade, muito escassa no ambiente da política. Nesse sentido, a proximidade da administração e o pertencimento sobre os recursos do fundo que dará sustentação ao Regime Próprio de Previdência também foram evocados como argumentos de lisura. Como disse o diretor de administração, Oraci Chitolina, as pessoas da cidade não vão tolerar fraudes, já que o recurso é do município. A afirmação se deu diante da proposta levantada pela ex-vereadora Jane Krahe, que ao debulhar o documento, sugeriu mais rigor na fiscalização para proteger o fundo.
É possível perceber que o processo de implementação da nova instituição está se dando na era digital. As ferramentas da internet, home-page e toda a tecnologia permitiu em tempo real o acompanhamento por parte dos interessados, com a publicação das atas, sínteses noticiosas, fotografias e documentos disponibilizados no site da Câmara de Vereadores de Esteio. Uma preocupação clara do Poder Legislativo em garantir a transparência sobre o processo. A mesma preocupação com a transparência pôde ser percebida pela Prefeitura que, ao elaborar o projeto, constituiu o grupo de trabalho e a forma como pretende administrar a nova instituição.
O debate em torno do Regime Próprio de Previdência contribuiu para mostrar que os gestores públicos, de maneira geral, estão preocupados com a corrupção. Compreendem que sistemas falhos contribuem para desvios de recursos e, com isso, avaliam que não existem santos entre nós. Que a nossa democracia já está mais madura. Que compreendem a luz pública como alternativa ao combate à corrupção e as fraudes, tornando evidente a estratégia da participação popular como saída para nos salvar da banalidade do mal, presente nos regimes totalitários que marcaram nossa história ao longo do século XX. Que ao abrir à comunidade, encontramos em nosso tecido social pessoas com capacidade para contribuir, tal como foi com a ex-vereadora Jane Krahe e com o advogado Ênio. Que ao apontar suas críticas em torno da política, manifestam e compartilham, ao mesmo tempo, todas essas virtudes.
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