segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O Idioma e a Brasilidade

 
Heitor Hartmann*
- “ A inteireza do espírito começa por se caracterizar no escrúpulo da linguagem.”
- “ Uma raça cujo espírito não defende o seu solo e o seu idioma, entrega a alma ao estrangeiro, antes de ser por ele absorvida.”
– RUI BARBOSA.

Compreendo Rui Barbosa, sem o Brasil. Mas, o Brasil, sem Rui Barbosa, não compreendo. Compreendo declarações de amor ao Brasil, sem mais provas. Mas, o relaxamento, sem limites, no uso da nossa língua, não compreendo, a não ser como indiscutível falta de brasilidade.

Rui Barbosa sabia das coisas, quando escreveu que a inteireza do espírito começa no escrúpulo da linguagem. Ao contrário do que pensam alguns, nada existe de brasileirismo na morenidade da pele, nem na descendência desta, ou daquela raça. Brasileiro é quem nasce neste País, mas brasilidade se demonstra pelo capricho e zelo no uso do idioma pátrio. Só haverá inteireza de espírito nos que se esforçam em cultivar uma linguagem mais correta, no dia-a-dia, exercitando a difícil arte de escrever simples, de maneira fácil. Isso não é tarefa para semianalfabetos, de uma pobreza vocabular acabrunhante, de tendência anticulturalista e de autodefesa da própria ignorância.

      Refletindo com absoluta honestidade, poderíamos dizer, em sã consciência, que defendemos o nosso idioma? Mas como, se o massacramos, literalmente, em nossa fala e em nossa escrita? É, talvez, por isso, que estamos  assistindo a uma invasão desfibrante de costumes norte-americanos, em prejuízo de nossas mais caras tradições nacionais. Essa onda atual de macaqueação dos Estados Unidos prova, sobejamente, que já entregamos nossa alma ao estrangeiro. Quanto ao solo, Deus somente é que sabe como andam as coisas.
Pior é que ainda temos de suportar essa avalancha arrasadora de palavras da língua inglesa norte-americana, que se infiltram em nosso meio por intermédio da informática. A norma adequada de nossa língua é a de aportuguesar os termos que não possuem tradução correspondente. Quando há similar nacional, deve-se preferir o que é nosso. Infelizmente, a TV Globo- que é o mais poderoso instrumento de divulgação do País – faz o jogo do estrangeiro: usa a pronúncia  “récord”, em vez da aportuguesada “recorde”. Pior: ainda recentemente, intitulou uma novela de “Meu bem querer”, quando o Brasil inteiro sabe que “bem-querer” leva hífen.

       Pobre País este, que assiste – inerte e inerme- à sua principal rede televisiva contribuir para a entrega da alma nacional ao estrangeiro. Gostaríamos de ver a Rede Globo empenhada em iniciar uma forte campanha a favor do prestígio cada vez maior, junto aos brasileiros, do idioma pátrio. Por sinal, isso ficaria muito bem para os donos da TV Globo.

      Não permitamos que a nossa alma seja absorvida pelo estrangeiro. Caprichemos um pouco mais na fala diária e no incentivo às tradições brasileiras. É preciso orgulhar-nos do que é nosso. As estranjas que se avenham: têm o nosso respeito, mas – fique bem claro -, acima de tudo, está a nossa brasilidade.



*Jornalista, Professor, Escritor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário