As eleições são ótimos momentos para nos fazermos algumas
perguntas como cidadãos. Qual é o nosso entendimento sobre a representatividade
política? Será que o modo como escolhemos nossos parlamentares e o motivo pelo
qual os colocamos no legislativo é o mais adequado? Somos sérios ao aceitar que
os candidatos tenham na busca de um mandato um projeto pessoal para ganhar um
salário melhor ou para defender estritamente o seguimento que o financiou e o
elegeu? Quando naturalizamos, no interior com mais intensidade, a compra de
votos como prática histórica e normal, não estaríamos nós sendo cúmplices de
uma lógica que leva as cadeiras das câmaras e assembleias legislativas pessoas
que não terão posturas dignas de assegurar isonomia e o interesse público dos
processos políticos?
É o nosso entendimento coletivo do que significa um vereador
ou deputado que está enviesado, qual o papel de um agente público, qual as
premissas e qualificações esse cidadão deve ter, são questões que não estamos
respondendo bem, haja vista, o cenário atual. Será que ser uma pessoa
simpática, ser um sujeito engraçado, ser um profissional atencioso, ter herança
política de família, são características que credenciam alguém para ser um
agente público que não vá legislar em causa própria e garantir que seu mandato
será espaço para as reais demandas da população?
Qual o espaço que há nas câmaras municipais para que os
interesses da maioria da população seja debatido, que voz tem essa população
dentro dessas casas? Há maturidade representativa nas câmaras municipais quando
as características mencionadas acima são as que determinam quais pessoas se
elegerão? Como esperar dos políticos eleitos por essa lógica que eles garantam
qualquer mudança nesse modo de fazer política? Como imaginar que esses
vereadores e deputados irão construir nas casas legislativas espaços para se
desenvolver uma nova sociedade, sendo que é exatamente a não construção desses
espaços que os mantem nos seus cargos?
Qual a possibilidade de que haja mais oportunidades de
escuta do povo e de que se trate com seriedade republicana os temas dos
municípios enquanto as eleições se pautarem por apadrinhamentos e troca de
favores? Pouco se analisa acerca do preparo, da lisura e do programa dos
candidatos e sim o que se pode ganhar pessoalmente caso ele se eleja. Enquanto
os interesses pessoais imediatos restritos a ganhos materiais ou simbólicos
efêmeros conduzirem nosso jeito de estar no mundo, de votar e fazer escolhas
não podemos cobrar dos parlamentares outra lógica ou postura.
Os momentos mais difíceis da vida são quando nossos
interesses pessoais se confrontam com interesses maiores, da coletividade que
vivemos. Creio que é um compromisso nosso pensar sobre essas questões para que
no mínimo repensemos nosso proceder constantemente. A democracia representativa
brasileira é muito frágil e incentiva através de suas dinâmicas a perpetuação
no poder de grupos políticos que operam pela lógica que estou aqui criticando.
Um legislador sério deveria ter como compromisso primeiro o
de garantir em todas instâncias que as casas legislativas abram espaço para
todas as pessoas, principalmente os trabalhadores e os mais vulneráveis
socialmente. Para que isso ocorrá é importante que ele saiba ler quais são os
interesses coletivos fundamentais e fazer com que essas demandas se materializem,
mesmo que isso divirja por alguma razão de interesses pessoais que o cercam. O
candidato que você vai votar tem esse compromisso, a maturidade e coragem para
fazer essa leitura necessária da realidade?
Gregório Grisa - doutorando em Educação na UFRGS
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