sábado, 10 de setembro de 2011

UM MUNDO PIOR É POSSÍVEL




Marcos Rolim

I - Se há algo que os eventos do 11 de setembro deixaram bastante claro é que há sempre uma forma imprevista pela qual o mundo pode se tornar pior.
Não se trata de pessimismo, mas de um princípio para o qual, imagino, deveríamos estar alertas: para que as coisas melhorem, para que o mundo seja um local mais justo e seguro, é preciso muito esforço. Mas para que as coisas desandem, para que a violência se instale, para que as conquistas mais importantes da civilização sejam esquecidas, não é preciso esforço algum. Bastam a irreflexão, o acomodamento, o desinteresse.

Os atentados terroristas promovidos pela Al-Qaeda constituem um dos símbolos mais fortes de nossa época. Por conta da estupidez deste grupo - movido, como se sabe, por profundos sentimentos religiosos – uma nova série de eventos causais foi deflagrada. O resultado, 10 anos depois, só pode ser descrito em termos de uma tragédia sem fim. A absurda guerra no Iraque, onde já morreram cerca de um milhão de pessoas, é a contra-face do terror em sua forma estatal e as cenas de tortura em Abu Ghraib dizem muito mais que a covardia de um punhado de soldados. Aqueles que se apresentaram ao mundo como “os inimigos do terrorismo”, foram, infelizmente, derrotados por ele na exata medida em que adotaram seus métodos e sentimentos. O que é grave, para nós, é que esta derrota nos convoca. Do fundo deste abismo, somos chamados a compartilhar os mesmos valores da queda, saudando a morte dos suspeitos e chamando o crime de “justiça”.

II - Quando os blindados apareceram nas favelas cariocas e o governo do Rio de Janeiro anunciou a retomada dos territórios sob domínio dos traficantes, montou-se na mídia brasileira uma operação fantasiosa e publicitária que transformou a iniciativa em um espetáculo. A opinião pública - construída pela forma acrítica com que as operações foram apresentadas - saudou entusiasticamente a estratégia. Ao mesmo tempo, as UPPs eram apresentadas como uma espécie de “varinha mágica”, capaz de assegurar a pacificação do Rio de Janeiro. Naquele momento de total e irrefletida adesão às operações policiais e militares era muito difícil divergir e foram poucas as vozes dissonantes em todo o Brasil. Ao lado de pesquisadores como Luiz Eduardo Soares, fui uma destes que “desafinou o coro dos contentes”. Infelizmente, como os fatos não se cansam de demonstrar, estávamos certos. Não há “atalhos” para a segurança pública e não se constrói política de segurança com blindados. Quando policiais das UPPs são flagrados com milhares de reais em suas bolsas, quando os militares voltam ao Complexo do Alemão para “a guerra” com traficantes, quando moradores são torturados ou mortos por integrantes das milícias, quando uma magistrada é assassinada por policiais, quando o governador chama os bombeiros de “arruaceiros” ou quando silencia sobre bondes que descarrilham e matam pessoas, em cada um destes episódios temos a comprovação de que a política de segurança aplicada no Rio de Janeiro é uma farsa tão grande quanto o governo daquele estado.

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