O Brasil vive um momento de profundas mudanças sociais,
políticas e econômicas nos últimos 10 anos. Passados 50 anos do golpe militar
de 31 de março, de 1964, a jovem democracia brasileira apresenta seus sinais de
maturidade e disposição de recontar sua história. A abordagem simbólica de como
é lembrada a data do Golpe Militar ganha força com os resultados econômicos e
sociais consequentes de uma política nacional que havia sido abruptamente
interrompida com o golpe militar.
As palavras ditas pelo presidente João Goulart, no dia 13 de
março de 1964, em comício na Central do Brasil no Rio de Janeiro, que reuniu cerca
de 200 mil pessoas, voltam a ecoar no cenário nacional com os resultados do
governo democrático de Dilma Rousseff.
Jango => “A democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do
antissindicato, da antirreforma, ou seja, aquela que melhor atende aos
interesses dos grupos a que eles servem ou representam. A democracia que eles
querem é a democracia para liquidar com a Petrobras; é a democracia dos
monopólios privados, nacionais e internacionais, é a democracia que luta contra
os governos populares e que levou Getúlio Vargas ao supremo sacrifício.”
Após um longo período de entreguismo, protagonizado pelos
governos militares geradores de uma impagável dívida externa, a sociedade
civil, representada pelo operário, sindicalista, Luiz Inácio Lula da Silva, que
foi conduzido pelo povo brasileiro à Presidência da República, retoma um
projeto verdadeiramente nacional e voltado ao povo brasileiro. Em seu governo
foi desarticulada a nova investida imperialista que se concretizava em torno da
Área de Livre Comércio das Américas (Alca), saldou a dívida externa brasileira
e tornou o País uma unidade federativa capaz de articular novos blocos
econômicos no mundo, a exemplo do Brics (bloco econômico articulado pelo Brasil
com a Rússia, Índia, China e África do Sul). Fortaleceu a Petrobras, que estava
prestes a ser privatizada pelo Governo de Fernando Henrique Cardoso e
transformou a estatal em uma das maiores empresas petrolíferas do mundo. Nesse
processo, desencadeou a indústria naval que mudou o panorama econômico e social
de regiões historicamente fragilizadas, a exemplo da metade sul, no extremo sul
do País.
Jango =>“Não há ameaça mais
séria à democracia do que desconhecer os direitos do povo; não há ameaça mais
séria à democracia do que tentar estrangular a voz do povo e de seus legítimos
líderes, fazendo calar as suas mais sentidas reinvindicações. Estaríamos, sim,
ameaçando o regime se nos mostrássemos surdos aos reclamos da Nação, que de
norte a sul, de leste a oeste levanta o seu grande clamor pelas reformas de estrutura,
sobretudo pela reforma agrária, que será como complemento da abolição do
cativeiro para dezenas de milhões de brasileiros que vegetam no interior, em
revoltantes condições de miséria.”
A reforma agrária, embora ainda seja um desafio para ser superado
no Brasil, ganhou espaço ministerial junto ao Governo Federal e o enfrentamento
à miséria se tornou slogan de governo e prioridade nacional. Os governos
democráticos e populares liderados por Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma
Rousseff criaram e ampliaram programas de distribuição de renda, a exemplo do
Bolsa-Família, programas profissionalizantes que colocaram a classe “E”, no
Brasil, à beira da extinção, pela melhora da qualidade de vida da fatia mais
vulnerável do tecido social. A constatação é do IPC-Marketing, de São Paulo,
que em 2012 registrou que 0,8% dos lares brasileiros integravam a classe “E”.
Em 1998, a classe E reunia 13% dos domicílios, indicava o estudo baseado em
dados do IBGE. Além dos programas de distribuição de renda, a qualidade de vida
dos brasileiros também foi afetada positivamente pela retomada histórica da
valorização do salário mínimo, a partir do Governo Lula.
Jango =>“Àqueles que reclamam
do Presidente de República uma palavra tranquilizadora para a Nação, o que
posso dizer-lhes é que só conquistaremos a paz social pela justiça social.” –
Atualmente a frase do ex-presidente João Goulart poderia
caber na síntese: “país rico é um país sem miséria”.
Jango =>“Não tiram o sono as
manifestações de protesto dos gananciosos, mascarados de frases patrióticas,
mas que, na realidade, traduzem suas esperanças e seus propósitos de
restabelecer a impunidade para suas atividades antissociais”.
Frase que constrangeria o conteúdo do discurso racista e
homofóbico, proferido no dia 29 de novembro de 2013, pelo deputado federal Luis
Carlos Heinze, do PP, legenda partidária que tem sua origem na Arena (partido
de sustentação da Ditadura Militar), “...Gilberto
Carvalho também é ministro da presidente Dilma. É ali que estão aninhados
quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo que não presta, ali está alinhado. E
eles têm a direção, têm o comando do Governo”.
Que demonstra claramente que o espírito bélico e antissocial que deu
base à ditadura militar permanece vivo em nosso tecido social com
representações políticas legítimas que defendem claramente a violência e o
extermínio dos “diferentes” e “desafetos”, a exemplo do regime militar. Heinze
defendeu que os produtores impeçam a reforma agrária com seguranças
particulares, a exemplo do que está sendo feito no Pará.
Jango =>“Vamos continuar
lutando pela construção de novas usinas, pela abertura de novas estradas, pela
implantação de mais fábricas, por novas escolas, por mais hospitais para o
nosso povo sofredor; mas sabemos que nada disso terá sentido se o homem não for
assegurado o direito sagrado ao trabalho e uma justa participação nos frutos
deste desenvolvimento.” O Brasil, no
governo Lula e Dilma, conquistou o pleno emprego em patamares que invejam os
gestores da comunidade europeia. Em janeiro deste ano o Brasil registrou o
índice de 4,3% de desemprego, o menor da história do País. Com determinação na
qualificação dos trabalhadores o Governo Federal, por meio do Pronatec, atingiu
5,7 milhões de matrículas em cursos de qualificação profissional e técnicos até
fevereiro deste ano. Desses, segundo a presidenta Dilma Rousseff, 60% são
jovens com idades entre 17 e 29 anos, atingindo 4260 municípios do território
nacional.
Jango =>“Hoje, com o alto
testemunho da Nação e com a solidariedade do povo, reunido na praça que só ao
povo pertence, o governo, que é também o povo e que também só ao povo pertence,
reafirma os seus propósitos inabaláveis de lutar com todas as suas forças pela
reforma da sociedade brasileira. Não apenas pela reforma agrária, mas pela
reforma tributária, pela reforma eleitoral ampla, pelo voto do analfabeto, pela
elegibilidade de todos os brasileiros, pela pureza da vida democrática, pela
emancipação econômica, pela justiça social e pelo progresso do Brasil”. No
dia 31 de março, o discurso do Presidente Jango foi interrompido pelo Golpe
Militar.
Estas reflexões foram feitas com o Jornalista, escritor e editor Esteban Rey Fontan
Estas reflexões foram feitas com o Jornalista, escritor e editor Esteban Rey Fontan
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