sexta-feira, 24 de agosto de 2012

24 de Agosto - A história do trabalhismo impressa em nossa cidade


A última sexta-feira do mês de agosto foi dia 24, uma data especial para a cidadania esteiense. A política da cidade se desenvolveu, desde seus primórdios, em torno dos fundamentos ideológicos do trabalhismo.
O primeiro prefeito, Luiz Alécio Frainer, governo a cidade até 1959 pelo PTB e passou o governo para seu sucessor Galvany Dornelles Guedes, que foi prefeito até 63 pelo mesmo partido. A legenda seguiu no comando do município até 69, pelas mãos de Adão Ely Johann. Novos ventos da política trouxeram Clodovido Soares pelo MDB, que tinha uma ala trabalhista nos tempos em que só existiam duas possibilidades partidárias no Brasil, o MDB e a Arena. Clodovino governou até 69 e fez seu sucessor, Joan Pio Germano, pela mesma legenda que governou até 77 e devolveu a prefeitura para Clodovino Soares pelo MDB governando até 82. Com a abertura democrática e a oficialização do PDT, Lizandro de Araújo Filho recebe de Clodovino a prefeitura para governar até 83, depois segue Enéas Teredo Buscari, Pelo PDT até 89, e novamente Clodovino Soares pelo PDT chega a prefeitura e passa a administração para Getúlio Fontoura, que encerra o ciclo trabalhista iniciado em 1955, em Esteio. O trabalhismo retornaria ao governo da cidade por vias avessas, em virtude da mudança de filiação partidária da prefeita Sandra Silveira, que deixou o PSB para ingressar no PTB. Desde então os trabalhistas retornaram ao governo e permanecerão, certamente, até 2016.


   
A marca política do trabalhismo está presente em todas as partes da cidade. A data de 24 de agosto, em que lembramos o suicídio de Getúlio Vargas em pleno exercício da Presidência da República, ocorrido em 1954, deu nome para uma das principais vias do município. A rua 24 de agosto inicia junto a Praça do Soldado, no centro econômico da cidade, e permite fluxo para todos os principais bairros culminando com a Padre Antônio Vieira, no Cemitério 2 de novembro. Na rua 24 de agosto temos o cartório de títulos e protestos, a Câmara de Vereadores, diversos centros comerciais, gastronômicos, lotéricas, porém a predominância da via se dá por residências horizontais, com poucos vazios urbanos em relação ao restante da cidade.
No Brasil, o trabalhismo permeia duas legendas partidárias. Teve origem com o PTB  de Getúlio Vargas e posteriormente também é reivindicado pelo PDT de Leonel Brizola. Assim, o município continuará com lideranças trabalhistas independentemente de quem vencer as eleições neste ano. A proposta de reeleição, liderada por Gilmar Rinaldi do PT, tem em seu rol de partidos políticos a adesão do PTB. Já a chapa de Vanderlan Vasconselos (PSB), tem como vice Francisco Alves do PDT.
A composição política dos trabalhistas na Câmara de Vereadores se dá por três mandatos. Marli da Saúde e Luiz Duarte pelo PTB, e Jane Battistello pelo PDT. Em 2011, a data foi lembrada pela vereadora Jane Battistello que utilizou o Grande Expediente para enaltecer o trabalhismo e a pessoa de Getúlio Vargas como uma das principais referências políticas do Brasil.
Este ano não registramos nenhum movimento em torno do dia 24 de agosto em Esteio. A Praça do Soldado viveu a sexta-feira como qualquer outro dia do ano. Entre os camelôs permaneceu o busto de Getúlio Vargas, que sequer dividia a atenção com os candidatos plastificados e impressos em placas, como um sinal do que seriam as esfinges de nosso tempo. 

Charles Scholl



 Cópia da carta-testamento assinada por Getúlio Vargas em 24 de agosto, de 1954.


“Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.
Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
"Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
"Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.
"E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte.
Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.”

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